DESENVOLVIMENTO DA MULTIPLICIDADE DE PERSONALIDADES

DESENVOLVIMENTO DA MULTIPLICIDADE DE PERSONALIDADES

 

A cada novo retorno ao soma, trazemos em nosso conteúdo físico e psíquico toda bagagem evolucional já percorrida. Exemplos são os reflexos condicionados e automatizados como respiração, equilíbrio homeostático, todas as funções vegetativas, os instintos. Sob o aspecto psicológico na formação da nossa psique, também desenvolvemos automatismos progressivamente. São nossas respostas psíquicas involuntárias aos estímulos a que já estamos condicionados pela sua repetição sucessiva, com nossas reações psíquicas imediatas, como raiva, agressão, medo e fuga, até respostas sociais condicionadas como pedir desculpas, por favor, com licença, obrigado, manifestações intuitivas espontânea, que já fazem parte, de grande parte da humanidade como animal intelectual em evolução.

Após uma experiência no soma (“encarnação”), podemos assumir um novo modelo, introjetando padrões assemelhados a uma figura arquetípica, presente no “campo dos arquétipos” existente no arquivo consciencial das humanidades, chamado pela psiquiatria Junguiana como “inconsciente coletivo” e seus arquétipos. Outra possibilidade é repetirmos semelhante modelo arquetípico manifesto em experiência pretérita, agora nesta experiência, refazendo aproximadamente todas as nuances de existências pretéritas, fechando um ciclo repetitivo e estacionário neste “ir e vir”.

Por observação e estudo das inúmeras sessões de Terapias Regressivas a Vidas Passadas, notamos claramente a mudança drástica e radical dos padrões arquetípicos que são introjetados a cada nova experimentação no corpo somático, e a outra possibilidade já referida, é a repetição sucessiva do padrão anteriormente estabelecido, fixando-o cada vez mais no núcleo da consciência, dificultando sua mudança a cada nova experiência no soma.

Podemos citar aqui alguns e exemplos observados de mudanças radicais e antagônicas de modelos:

• Valente, corajoso — covarde, inseguro, tímido.
• Agressivo, impulsivo, ativo — passivo, retraído, magoado, depressivo, melancólico.
• Insensato, voluptuoso, fútil – cauteloso, casto, recatado.
• Poderoso, rico, abusador, arrogante, prepotente, vaidoso – simples, pobre, humilde, subserviente.

Na maioria das vezes, ocorre uma tentativa de mudança de padrão, com desenvolvimento de personalidades antagônicas à condição experimentada anteriormente ou pode-se ocasionalmente, como já foi descrito, repetir padrão semelhante à personalidade manifesta em experiência anterior.

As diferenças observadas nas apresentações dos padrões mudam sua expressão na dependência do tempo decorrido entre a sua última ocorrência, da sua localidade, do meio ambiente que se apresentam, do tipo de sociedade e quais as motivações e condições que influenciaram no seu desenvolvimento e manifestação.

Observamos que as novas personalidades, que estão em contra padrão, encontram muita dificuldade em se manterem, como “consciências encarnadas” sendo pressionadas pelas personalidades criadas anteriormente, que ainda permanecem ativas em nosso campo psíquico, atuando como personalidades satélites orbitando nossa psique, sendo, todavia, constantemente bloqueadas pelo ego que de certa forma protege, mantém e tenta estabilizar a personalidade atual manifesta no soma, em sua proposta existencial atual.

Todas estas personalidades satélites desagregadas, que orbitam em nossa psique, já tiveram sua experiência no soma, e ainda se mantém ativas com todo seu automatismo psíquico desenvolvido, ecoando em nós, por ressonância, com todos os seus traumas, seus complexos e seu caráter. Como estas personalidades pretéritas muitas vezes não estão integradas e alinhadas ao núcleo psíquico da consciência encarnada, (discordância com o projeto atual de experimentação) mantém sua influência sobre a psique, invadindo nossos pensamentos , distorcendo nossa vontade e impulsos, transferindo desejos diversos, raivas, culpas e medos, que fazem partes de nós mesmos, todos provenientes de nossas experimentações em personalidades pretéritas que moldamos e demos liberdade de expressão e independência, e que hoje tentamos manter ocultas nas sombras da memória, (inconsciência )porém,  já as vivenciamos intensamente no pretérito sob outra máscara (persona) e  hoje na nossa tentativa de mudança do padrão anterior, tentamos repelir (como se toda esta avalanche de influências que nos assediam, não nos pertencessem) sem entendermos, ou querermos entender e aceitar, que todos estes complexos e aparentemente incoerentes impulsos no sentir, pensar e agir são produtos de nós mesmos, e por muitas vezes quando chegamos a concretizar um pensamento proveniente de nossas personalidades desagregadas em uma ação geralmente exclamamos com certa indignação;

• Como posso eu ter pensado isto!
• Como posso eu ter feito tal coisa!
• Parece que não fui eu mesmo!
• Não acredito que eu possa ter dito ou feito isto!
• Como pode ter acontecido isto!
• O que será que me deu na hora!
• Não pode ter sido eu!
• etc. mil………….

Na realidade tudo que sentimos, pensamos ou fazemos, é nosso mesmo!

Cabe encararmos e analisarmos corajosamente todos nossos sentimentos, pensamentos e ações, buscarmos o autoconhecimento profundo, nos identificando com nossas tendências, sem as rejeitarmos, observá-las, estudá-las, ressignifica-la, dentro do contexto deste nosso novo projeto de experimentação no soma a que nos submetemos, e não covardemente incriminarmos terceiros, (demônios, obsessores)  por aquilo que é  nosso conteúdo,  faz parte de nossa memória, são personalidades auto geradas em nossa imortalidade como consciências energéticas, que se apresentam e se moldam em nossos corpos somáticos para novas experiências evolutivas.

Teremos, obrigatoriamente, que mudar nossas crenças primárias e singelas, a respeito da nossa constituição psíquica, resignificar nossa existência, requalificando nossas emoções e reações, dando novo sentido a tudo que nos é próprio, aceitando que tudo ainda faz parte de nós, e somente a partir deste reconhecimento, atitude e auto responsabilização, estaremos aptos e preparados a iniciar o efetivo movimento de transformação íntima, expansão de nossa consciência cósmica, com  dissolução progressiva do ego com sua desmaterialização.

Vale o aforismo grego gravado no oráculo de Delfos “conhece-te a ti mesmo”

Quantas vezes ao dia sentimos que ciclamos nossa personalidade, passando de passivos para extremamente agressivos, de generosos para egoístas, de recatados para libertinos, de humildes para vaidosos, de compreensivos e colaborativos, para arrogantes e prepotentes, de trabalhadores atenciosos e dedicados para preguiçosos e negligentes, de calmos para raivosos, alternando constantemente nossa forma de sentir pensar e muitas vezes agir com todas suas consequências.

Não identificamos objetivamente estas personalidades ativas em nosso campo psíquico, e por desconhecimento de suas existências em nossa psique, no eu mesmo, interpretamos estes impulsos, pensamentos e desejos, como fantasias da nossa mente, ou mesmo influências externas, como se não fossem produtos de nós mesmos, do conteúdo  de nossas consciências (pela psicologia tradicional-inconsciente), que ainda contidas em nosso campo psíquico como personalidades ativas, nos transmitem constantemente seus impulsos, interpretados  como pensamentos e sentimentos.

Todas estas personalidades psíquicas, já tiveram suas experiência no soma, criaram seu caráter e sua identidade, que muitas vezes não estão dispostas e nem em concordância com o atual projeto de vida. Projeto este, que é usualmente elaborado a partir da nossa arrogância maniqueísta em julgar-se capaz de suportar mudanças bruscas e radicais a cada nova existência no corpo somático.

Este contra padrão radical que projetamos, é um dos fatores dos nossos conflitos internos, desconforto existencial, vitimismos, sofrimentos psicológicos, revoltas íntimas, culminado em várias e freqüentes oportunidades ao retorno dos padrões anteriores, já existencializados no soma, manifestados hoje em nossas atitudes aparentemente incoerentes, recorrentes e incondizentes com nossa proposta de vida, onde repetimos os mesmos padrões de condicionamentos anteriores.

Existem muitas religiões que terceirizam, de acordo com suas conveniências, as nossas responsabilidades para imagens arquetípicas externas negativas de  demônios, que nos são apresentados com múltiplas representatividades e denominações ou então como os agentes “obsessores invisíveis que pululam ao nosso redor e nos influenciam mais do que podemos imaginar”, todas estas criações são muito oportunas para serem responsabilizadas pelas nossas iniquidades e desvios cometidos, que ainda mantemos condicionados e ativos em nosso psiquismo, sem que tenhamos que assumir a total responsabilidade, pois seriam estes “terceiros”, que não fazem parte de nós, que estariam nos influenciando, os “verdadeiros culpados” por nossos desvios, fazendo-nos de forma involuntária e inconsciente, reincidirmos em nossos erros.

Esta inverdade foi criada e é mantida pelas religiões, ao longo dos séculos, para sua conveniência, pelo seu oportunismo, irresponsabilidade, comodismo e ignorância.

Estas personalidades, múltiplas ativas, quando submetidas, gerenciadas e controladas pelo ego, geram pequenos desconfortos emocionais a que todos nós estamos sujeitos, que são os nossos conflitos menores, nossas dúvidas, inseguranças, nossa mudança constante de interesses e atitudes, querer e não querer, porém, sem comprometer de forma significativa nosso equilíbrio emocional. Com esta conformidade psíquica, somos todos neuróticos incipientes.

SALVADOR ARRUDA